segunda-feira, 19 de maio de 2008

Capítulo um: O abraço

Fernando voltava para casa depois de mais uma noite pelas casas noturnas de São Paulo. Caminhava para esquentar o corpo naquele clima frio que nem o cachecol e o casaco grosso bloqueavam. Tirou um cigarro de bolso e acendeu acreditando que a pequena chama pudesse combater o vento gelado das três da manhã. Continuou seu caminho a passos largos observando a rua em volta. A cidade era bem diferente sem a presença do sol, aquela via que ficava completamente congestionada de dia agora estava deserta. Recolocou o maço no bolso e tirou dele um cartão. Examinou o pequeno retângulo de papel com o cigarro entre os dedos e um sorriso nos lábios. Estava escrito Cecília Vergas e o número de um telefone e baixo. Imaginou que o sobrenome era italiano e lembrou-se da dona dele. Uma loira de sorriso dissimulado rosto angelical e seios comprados com o melhor cirurgião plástico do estado. Ele a conhecera na última boate que fora naquela noite e sentiu uma atração imediata. Puxou-a para um canto afastado de suas amigas com atitude e isso garantiu o cartão que segurava.
O rapaz virou a esquina numa rua de paralelepípedos e notou a presença de uma mulher do outro lado da rua virando ao mesmo tempo. Ele não pôde identifica-la muito bem o rosto dela parecia estar sempre na sombra de longe. A mulher olhou fixamente para Fernando deixando-o embaraçado. Ela atravessou a rua sem olhar para os lados, ainda com o olhar sobre seu companheiro noturno, seguindo uma linha até ele. Seu andar era característico, estável, a altura dos ombros aparentemente não se alterava nem mesmo quando ela passou do meio-fio para a rua. Antes de chegar até a outra calçada ela disse:
_Tem um cigarro?
_Claro._ respondeu o homem oferecendo o maço e observando a mulher pela primeira vez.
Era morena, tinha cabelos curtos e pele branca. Apesar do frio vestia roupas muito finas, transparentes em algumas partes, e um sobretudo vermelho aberto.
_Qual o seu nome?
_Fernando.
_Prazer, nando, pode me chamar de Courtney.
_É americana?
_Não. Sou internacional._ afirmou ela sorrindo.
Os dois já estavam caminhando juntos sem perceber e num ritmo lento. Analisavam-se a todo o tempo; olhares fixos ou de cima a baixo lançados por ambos. Estavam se provocando.
Fernando observou que Courtney fumava de um jeito curioso, não tragava, praticamente não deixava a fumaça na boca. Ele a interrogou sobre isso:
_Nunca fumou?
_Fumei durante séculos.
_Porque não traga?
_Depois de tanto tempo já não tenho pulmão._ respondeu ela maliciosamente.
Ele fingiu acreditar e entrou na brincadeira.
_Você não parece tão velha para não ter pulmão ou ter fumado tanto.
_Acredite sou bem mais velha que você.
_Mas, aposto que sou mais experiente.
_Tenho certeza de que é mais convencido, né?
_Talvez. Não te conheço ainda.
_Quer me conhecer?_ ofereceu a garota demonstrando pela primeira vez seu incrível sex appeal.
_Talvez._ insinuou o homem com firmeza.
Courtney sorriu e apagou o cigarro na sola da bota. Sem Fernando esperar ela retirou o cachecol dele num movimento rápido dizendo:
_Adorei seu cachecol, laranja é minha cor preferida_ revelou enquanto colocava a peça sobre o pescoço.
_Não fica tão bem em você como fica em mim.
_Só nos seus sonhos, gatinho._ disse ela piscando.
Nesse momento houve um silêncio causado por falta de assunto e a mulher olhou de soslaio o pescoço nu do outro que empalidecia com o frio. Ele olhava os seios dela.
_Você ta olhando meus peitos?_ perguntou ela ao notar, como se fizesse uma pergunta qualquer.
_E se eu estiver?_ desafiou Fernando.
_Nesse caso, vou ter que te castigar.
Cortney tomou a iniciativa e puxou o parceiro para junto de si dando um beijo rápido e conduzindo os dois para um beco adiante. Os beijos abrasivos continuaram e a mulher mantinha as mãos do rapaz na parede.
_Você vai acabar ficando doente se deixar esse pescoço descoberto._ falou enquanto beijava o pescoço dele.
_Eu sei que você cuida de mim se eu ficar._ brincou o homem.
_Eu vou cuidar de você agora, vou deixar seu pescoço aquecido.
Ao dizer a última frase Courtney segurou Fernando na parede com força e exibiu uns caninos longos que cravou na pele dele. A sensação de ter o sangue sugado foi curiosa para ele, era como se estivesse entorpecido por uma droga, não sentia dor e apesar da ameaça de morte iminente não queria que acabasse. O prazer inicial durou poucos segundos. Uma dor que aumentava a cada respiração se apossou de seus sentidos e não conseguia mais pensar claramente, quanto mais reagir. Agora sentia sua vida saindo de seu corpo verdadeiramente e da pior forma possível. Tentou gritar, mas o som ficou sufocado na garganta. Era como se estivesse se afogando, mas muito mais dolorido. A vampira parou de repente, mas a dor não. Tirou um punhal do bolso e cortou o pulso de leve. Posicionou a ferida sobre a boca da vítima, que relutou e tentou virar para o lado oposto, e deixou algumas gotas. Subitamente a dor cessou, mas, depois de alguns segundos, deu espaço a uma pior ainda, muito mais intensa que pareceu cegar-lhe. Essa tortura ainda persistiu por minutos até que ele perdeu a consciência. Courtney observou tudo calmamente com o punhal na mão e com o corte já cicatrizado.


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